HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Cubatão, por Afonso Schmidt (1)
O passado, desde os enigmáticos tempos de João Ramalho; o presente-recente, na descrição de sua vida como o Menino Felipe; e o futuro, imaginado na utópica Zanzalá – três momentos de Cubatão transparecem na obra do principal escritor cubatense, Afonso Schmidt. Em 1974, no ano do jubileu de prata de Cubatão como cidade autônoma, a prefeitura local editou o livrete Cubatão na Obra de Afonso Schmidt, em que transcreve esta palestra proferida pelo professor Jorge Ferreira da Silva na Câmara Municipal cubatense, em 29 de junho de 1972, por ocasião do encerramento da III Semana Afonso Schmidt:

Ilustração de Jean Luciano
Introdução
Ao dar início às minhas palavras, nada mais oportuno e justo do que agradecer à Câmara Municipal a subida honra de que me fez objeto, convidando-me para, na qualidade de orador oficial, participar da sessão solene de encerramento da III Semana “Afonso Schmidt”.
As observações que vou proferir não constituem tão somente uma obediência às praxes e cerimônias desta índole. Não, senhores, pois brotarão do íntimo do modesto conferencista, que confessa de público, ademais, os temores de que se acha tomado no momento, de não estar à altura do autor homenageado, de sua obra e até mesmo do tema selecionado.
As limitações pessoais do orador, entretanto, não podem permitir que se obscureça a circunstância particular e acentuadamente significativa de demonstrar a reunião a que assistimos neste momento, que o nome de Afonso Schmidt possui o condão especial de despertar energia nos mais tímidos e de unir a seu redor todo o povo cubatense, aqui presente na pessoa de seus mais legítimos líderes, quer do Legislativo, quer do Executivo, assim como dos homens da indústria e do comércio, professorado, estudantes e – aqueles cuja assistência mais agradaria ao homenageado – os simplesmente leitores de seus escritos nesta “terra feliz” e invejável, para utilizar as suas próprias palavras.

Foto publicada no livrete de 1974 da P.M.C.
O ano corrente e Afonso Schmidt – Poucos anos seriam mais propícios a comemorações desta natureza do que o corrente (N.E.: 1972), em que se deu a coincidência de celebrar-se, no plano mais elevado e empolgando a todos os brasileiros, o Sesquicentenário da Independência Pátria.
No setor artístico, especificamente, e tendo sido levado a efeito no Estado do mais paulista dos escritores paulistas, como já foi chamado Afonso Schmidt, e (como por sinal também o acontecimento anteriormente registrado) ocorre agora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, por muitos considerada a Independência Cultural do País ou, pelo menos, a primeira arrancada neste sentido.
No terreno ainda da arte, mas já compreendendo um plano superior ao nosso território e estendendo-se a toda a comunidade luso-brasileira, comemora-se este ano, ademais, o quadricentenário da primeira edição de Os Lusíadas, com que Luís Vaz de Camões veio garantir ao idioma português a ascensão à maioridade.
E, finalmente, no nível internacional, celebra-se atualmente o “Ano Internacional do Livro”, sob os auspícios da Unesco, entidade filiada às Nações Unidas, ao qual Afonso Schmidt, sem sombra de dúvida, dedicou toda sua vida.
Por que tratará de Cubatão esta palestra? – Uma primeira pergunta se impõe: Por que tratará de Cubatão esta palestra, e em segundo lugar, por que se referirá à obra de Afonso Schmidt?
Tratará de Cubatão, evidentemente, por todo o seu passado ligado à História Brasileira (N.A.: “No Rancho de Paranapiacaba“, Júlio Prestes, pág. 20), que constitui para todos, e para nós em especial, um tema de suma relevância.
Um pequeno parêntesis nos permitiria, neste momento, fazer rapidamente um retrospecto da evolução do Município. Um porto apenas e um caminho e depois um posto fiscal deram início a Cubatão: era um reduzido número de casinholas ao redor d’água no lugar que se tinha como porto, um caminho cantado em versos do maior escritor deste rincão, e uma “alfândega” (entre aspas) para a fiscalização das mercadorias embarcadas.
Já em 1553, Martim Afonso chamava o Porto de Cubatão, “de Santa Cruz” (N.A.: “Memórias para a história da Capitania de São Vicente“, Frei Gaspar, pág. 175-176), por coincidência exatamente o primitivo nome do nosso próprio País.
Mais tarde, em 12 de agosto de 1833, no período da Regência, sancionou o Imperador Pedro II a Lei nº 24, elevando o referido Porto, abreviado depois para simplesmente Cubatão, à categoria de Município. O sonho, contudo, de transformar esta parte em Municipalidade, só haveria de concretizar-se no século seguinte, a 9 de abril de 1949.
Fechando o parêntesis, examinaremos de que épocas da história desta Comunidade tratará a presente palestra. Na verdade, de todas: de seu passado, do presente e do futuro de Cubatão, sempre, porém, como os viam os olhos, muitas vezes os da própria alma, do escritor Afonso Schmidt.
E por que tratará a palestra da obra de Afonso Schmidt? – Porque – atrever-me-ia a afirmar – ninguém amou mais e de tal forma este solo, estas montanhas, esta vegetação, fauna e rios, e esta gente cubatense, e ninguém foi capaz de transmitir tão intensamente a paixão que o dominava, que este literato, aqui nascido.
O tema serão os escritos schmidtianos ainda, porque o escritor, em sua obra, jamais esqueceu este ponto do mundo. Foi sempre aquele Menino Felipe, “que atravessou a nado o Rio Cubatão (lá em cima)…, e que trazia por toda a parte ao pescoço, como um bentinho, o nome de Cubatão…” (N.A.: O Diário, de Santos, de 19 de abril de 1964, artigo de Antônio Simões de Almeida).
Assim é que, auxiliados por ele e somente por ele, faremos uma incursão no passado e no futuro e deitaremos uma olhada no presente de Cubatão. Fundamentalmente, recorreremos a “O Enigma de João Ramalho” e a “Zanzalá”, dois dos trabalhos de Afonso Schmidt. Deter-nos-emos mais, todavia, na consideração deste último, pois ele, seguramente, cataloga, em forma a mais preciosa, as aspirações do coração de Afonso Schmidt quanto a seu berço, quanto à sua terra natal.
Cubatão, por Afonso Schmidt (2)

(Quadro pertencente ao acervo da Prefeitura Municipal de Cubatão)
Reprodução incluida no livrete de 1974 da P.M.C.
Traços biográficos – Filho de João Afonso e de Odila Brunckenn Schmidt, nasceu, como é sabido, em Cubatão, na época distrito de Santos, a 29 de junho de 1890, falecendo em 3 de abril de 1964, na cidade de São Paulo, com 73 anos.
Faria, hoje (N.E.: em 1972), dia de São Pedro, precisamente 82 anos de idade. Quase se chamou, por isso, Pedro. Houve também – o que muito me honraria – alguma sugestão para que se chamasse Jorge. Na sua obra, porém, preferiu autodenominar-se Felipe (N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág. 33).
Realizou os primeiros estudos em Santos, passando depois a São Paulo, onde os completou quanto possível.
Jovem ainda, e em circunstâncias curiosíssimas, viajou duas vezes para o exterior, perambulando pela Europa, desejoso do contato com a vetusta civilização do Velho Mundo.
Manifestou, desde a meninice, irresistível vocação literária e para a vida da imprensa, às quais, aliás, veio a consagrar-se inteiramente. Durante muitos anos, trabalhou em O Estado de São Paulo, cujo Suplemento publicou a primeira edição do já mencionado Zanzalá (N.A.: sob o título de A cidade dos brinquedos, em 11/1936). Já O Enigma de João Ramalho foi editado pelo Clube do Livro ao final de sua existência, em 1963.
E coisa rara entre nós, ainda em vida, alcançou relativa glória, conquistando vários prêmios, como o da revista O Cruzeiro, em 1950, com o trabalho Menino Felipe, uma de suas cerca de setenta obras (N.A.: reportagem de O Cruzeiro de 24/7/1948, Arlindo Silva); o Juca Pato, no Concurso O Intelectual do Ano, em 1963 (N.A.: reportagem da Folha de São Paulo, de 18/2/1964, Paulo Sérgio Freddi), vencendo a escritores do porte de Tristão de Ataíde, Cecília Meireles e outros.
Traços autobiográficos – Passemos rapidamente a ver como Afonso Schmidt, ele mesmo, descrevia a sua vida. Como disse certa feita, nasceu entre os sapos e os lírios (N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág. 59 e seguintes), no hiato de tempo em que Cubatão pertenceu à jurisdição santista.
Quando contava uns onze anos, ficando o lugarejo algum tempo sem escola, pôs-se a “vagabundear pela estrada, descalço, a camisa para fora da calça” (N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág. 102). Assim continuaria sempre, não fosse o zelo de sua mãe, diz ele, que “se afligia com a nossa falta de instrução” (N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág. 102), referindo-se a ele próprio e a seus irmãos.
“Na infância”, afirmou, “como agora”, – e esta é uma nota bastante saborosa – “sempre tive um desejo difícil de realizar: ser telegrafista da estação de Cubatão. Mas meus pais foram irredutíveis: fizeram os maiores sacrifícios para que eu e meus irmãos estudássemos. Atendi-os o melhor que pude. E o pouco que aprendi bastou para comprometer o meu futuro…” (N.A.: Folha da Manhã de 24/10/1955, reportagem de Raimundo de Menezes; e em Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág. 59 também).

Reprodução do livro O Sonho e a Técnica, de Cacilda T. Costa,
no site Estações Ferroviárias do Estado de São Paulo
Cubatão, por Afonso Schmidt (3)

Reprodução incluída no livrete de 1974 da P.M.C.
Cubatão do presente
Deslumbramento – Uma vez, Afonso Schmidt dedicou ao seu Cubatão, o Cubatão de sua infância, um poema hoje famoso em todo o Brasil. Permitam-me repeti-lo:
Cubatão
Minha terra não passa de uma estrada,um bambual que rumoreja ao vento;Sol de fogo em areia prateada,Deslumbramento e mais deslumbramento.
Ao fundo, a Serra. Pinceladas frouxasDe ouro e tristeza em fundo azul. AquelasManchas que são jacatirões – as roxas,E aleluias – as manchas amarelas.
A minha terra, quando a vejo escampaCheia de sol e de visões amigas,Lembra-me o cromo que enfeitava a tampaDe uma caixa de goma, das antigas…
(N.A.: Poesia, Afonso Schmidt, pág. 106 e transcrito no Suplemento de A Tribuna de 9/6/1957 por Nair Lacerda).
Transformação da vila silenciosa – Não imaginaria Afonso Schmidt que tal poesia, ditada e – quem sabe – imposta pelo coração, despertaria percuciente e incisiva a crítica.
Nair Lacerda levantou-se contra a ternura do poema, anotando que fazia referência a um Cubatão que não mais existia. Nas suas próprias palavras, em carta aberta dirigida ao escritor, disse ela:
“Acontece, porém, meu caro Schmidt… que mão decidida e gigantesca sacudiu, de repente, a vila silenciosa. A máquina invadiu o lugarejo triste, o progresso deitou sua marca, a fogo, no chão de romance. Lá onde se moviam personagens nebulosos, nascidos das sugestões de uns versos, trepidam agora tratores, rolam caminhões, deslizam coletivos.
E por isso, meu caro Schmidt,… que eu venho lhe pedir outro poema para a sua terra. Outro poema que sepulte definitivamente aquele de há trinta anos atrás, versos que ajudem a gente a aceitar o Cubatão de hoje, trepidante, mal cheiroso, com sua promessa, porém, de mais trabalho e mais pão” (N.A.: Nair Lacerda, em o Suplemento de A Tribuna de 9/6/1957 sob o título “Carta a Afonso Schmidt“).
Se Afonso Schmidt aceitara o desafio, não havia conseguido encontrar notícia até esta noite, mas, por uma comunicação telefônica com a própria Nair Lacerda, soubemos que lhe respondeu. E como veremos adiante, não carecia, no entanto, de fazê-lo, pois já antes da observação, muito antes, em 1928 ou 1936, em Zanzalá, sonhara um Cubatão até mais evoluído que o que transparece na crítica da escritora.
O rico centro industrial de Afonso Schmidt – Aquele poema fora, segundo a resposta dada por Schmidt, composto com muitos anos de antecedência; hoje ele o reescreveria com maior verdade, com maior emoção, cantando as fabulosas mudanças que aqui se deram, como a escritora, estimada e amiga, lho sugeria.
No entanto, não estando ele mais em Cubatão, não tinha um conhecimento particularmente vívido desses aspectos mais recentes. Ouçamos, porém, o inteiro teor da carta que ele enviou a Nair Lacerda:

Reprodução incluída no livrete de 1974 da P.M.C.
Nair Lacerda
Recebi há dias o suplemento de A Tribuna em que você teve a bondade de escrever uma linda crônica a meu respeito. Foi um belo dia para mim.
Não respondi antes, à espera da edição aumentada e definitiva de Bom Tempo, para retribuir-lhe a lembrança, mas os dias vão passando… Lamento não poder atender a sua amável sugestão de escrever, pela segunda vez, sobre Cubatão, pois eu mal conheço as fabulosas mudanças que ali se deram.
Quando lá estive, há uns dois anos, fui carinhosamente recebido pelos amigos, mas entre o Menino Felipe e o rico centro industrial só havia de permeio a lembrança dos que, à beira do rio, nasceram, sofreram e morreram…
Portanto, para mim, mais do que nunca, Cubatão não passa de uma estrada, com seus bambuais e seu velho chafariz. Aquele poema que você teve a bondade de transcrever foi composto com muitos anos de antecedência; hoje, não fora isso, eu o escreveria com maior verdade, com maior emoção.
Aceite um fraterno abraço e os meus instantes votos pela sua felicidade.
Afonso Schmidt
São Paulo, 2/9/1957
Cubatão, por Afonso Schmidt (4)

Ilustração de Jean Luciano, e legenda, incluidas no livrete de 1974 da P.M.C.
Cubatão do passado
Numa das páginas de O Enigma de João Ramalho – e os que já leram Afonso Schmidt sabem que João Ramalho foi um degredado que deu às costas do País -, escreve o cronista-mor de Cubatão:
Mais adiante: “João, afogueado, dirigiu-se ao pote de jacuba onde pretendia refrescar-se, mas lá chegando topou com algumas cunhantãs” – cunhantã em tupi-guarani significa menina-moça – “, que logo o rodearam, manifestando por ele viva curiosidade…
“Uma delas, núbil e graciosa, afoitou-se mais que as companheiras:
“– Um homem branco! – exclamou.
“Aquilo pareceu-lhe impossível! Nunca imaginara que houvesse homens brancos, verdes, vermelhos ou azuis! Para certificar-se, pegou-lhe nas mãos, apalpou-lhe as barbas e os cabelos hirsutos” (Aliás, essas barbas e cabelos é que deram origem ao apelido Ramalho, de ramalhudo) “, encheu-o de perguntas inúteis. Entretanto, o beirão” (João Ramalho) “limitava-se a rir com seus belos dentes, sem compreender patavina do que ela se esforçava por lhe dizer.
Mais além, fala-se de uma caravana que, conforme o romance, vai subir a serra. Esclareço aos ouvintes que havia ocorrido um pequeno problema entre os índios e os portugueses hospedados entre eles. Eram em número de três: Duarte, João Ramalho e Sabença. Duarte e Sabença não haviam correspondido à confiança dos silvícolas, os quais acreditavam, naturalmente, que com João Ramalho fosse passar-se a mesma coisa. Percebendo a situação, Ramalho procurou evitá-la o mais que pôde e tentou provar que merecia confiança, solicitando acompanhar aqueles que galgariam as montanhas. E pediu ao chefe da tribo a necessária autorização, que lhe foi concedida, nos seguintes termos:
Um novo parêntesis: Comparando o estilo dos dois livros que estamos focalizando, Zanzalá e O Enigma de João Ramalho, verificamos um trabalho estilístico cuidadoso nesta última obra, já da maturidade, em que se encontram arcaísmos, uma construção algo quinhentista, um português muito mais de Portugal que do Brasil. Se confrontarmos essa novela com a outra, Zanzalá, sentiremos um trabalho mais afoito, às vezes até descuidado, com passagens inclusive contraditórias, nem sempre coadunando-se uma página com a página anterior.
Entretanto, em O Enigma de João Ramalho, o desenvolver dos acontecimentos se processa com lentidão. Já havia vivido muito Afonso Schmidt e sabia que havia tempo para tudo. Ao contrário, em Zanzalá, obra da juventude, está preocupado em dizer coisas e coisas, muitas coisas, e parece não acreditar que a vida e o papel lhe sejam suficientes para isso. Feche-se o parêntesis.
No alto da serra, encontrando-se com Potira, diz João Ramalho:
“– Meu amor, cá estou eu… morro de saudades de ti!“
E Potira lhe pergunta:
Contesta João:
“– É uma doce palavra portuguesa que não tem tradução na tua língua, como em nenhuma outra…“
Diz Potira:
“– Vem comigo, quero levar-te a meu pai e senhor“.
Neste mesmo capítulo é que lemos que João Belbode Maldonado – assim seria o nome de João Ramalho, segundo Schmidt, – “o Ramalho, foi o primeiro homem branco a transpor a serra de Paranapiacaba e a entrar pelo planalto…” (pela) “trilha dos índios” (Tupiniquins) “, lá foram eles em fila, um atrás do outro…“
Lá em cima, no planalto, é que se realiza o casamento. Narra Afonso Schmidt:
“O casamento realizou-se numa Lua nova. Houve ruidosas festas. Os guaianás mantinham costumes rígidos. Guardavam a sua moral, como outros povos. Só com a organização da colônia, mais tarde – diz um cronista – começaram a depravar-se. Portanto, João e Potira casaram-se de acordo com as leis de Tupã e a elevada tradição da sua gente.” Muita atenção para as palavras que vêm em seguida. São textuais: “Assim começou a história de um grande povo – a nossa História, a História do Brasil.“
Em defesa desta tese, de que a História do Brasil principiou aí, e se começou nesse ponto, começou em nosso Município (N.A.: Cubatão somente em 1833 foi desmembrado do grande Município de São Paulo), por que em Cubatão é que havia aportado João Ramalho, diz o próprio Afonso Schmidt em notas ao final do romance:
“Nos primeiros anos deste século, travaram-se, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e na imprensa, vivos debates sobre a figura do português aqui aportado ignora-se como e quando. A darmos crédito ao seu testamento feito em cartório, perante o escrivão, o juiz ordinário e testemunhas gradas, em livro rubricado por João Soares, ele chegara a estas terras” – atenção – “ali por 1490, isto é, antes de Cabral” – que chegou em 1500 – “e de Colombo” – que chegou à América em 1492 – “. Mas esse testamento” (*) “, citado por Pedro Taques e por Frei Gaspar da Madre de Deus, assim como por outras pessoas, desapareceu sem deixar maiores vestígios.“
“Mas, para os que se interessarem por tais problemas,” – continua Afonso Schmidt em suas notas – “Santo André da Borda do Campo e a vida do patriarca dos paulistas, melhor será consultarem a ata da citada comissão do Instituto Histórico, assinada por Teodoro Sampaio (relator), Antônio de Toledo Piza e João Mendes de Almeida Júnior. Segue-se um parecer, discordante, de M. Pereira Guimarães, secretário dessa lídima instituição de cultura. Tudo isso e ainda outras informações e suposições, o leitor curioso encontrará no vol. VII da Revista do Instituto, relativo ao ano de 1902.“
“Com esse material” – prossegue o escritor – “, vasto, mas discutido, limitei-me a escrever uma novelazinha sem pretensões históricas.”
Vejam, senhores e senhoras, que o amor desse homem por seu torrão ia, pois, ao ponto de crer, ao arrepio de toda a documentação histórica acumulada e indiscutível até hoje, que aqui teria ocorrido inclusive o descobrimento de nossa Terra! (N.A.: Na realidade, João Ramalho chegou a estas plagas por volta de 1517).

“Roteiro de todos os sinaes e derrotas que há na costa do Brasil“, existente na Biblioteca do Palácio da Ajuda em Lisboa, Cubatão aparece ainda vinculado à Vila de Sam Vicente.
Não tardaria porém muito e ele – situado no continente – haveria de integrar o grande
Município de São Paulo dos Campos de Piratininga
Legenda incluida no livrete de 1974 da P.M.C.
A fundação de Cubatão – A fundação de Cubatão é outro ponto controvertido da nossa História, da História do País e da História do nosso Município.
Depois de casados, Ramalho e a filha de Tibereçá instalaram sua residência.
João Ramalho, portanto – segundo Afonso Schmidt – viu seu lar e sua família crescerem, “perto de Paranapiacaba”. Seria Cubatão? Alguns o crêem, como Aziz Nacib Ab’Sáber e Jaime Franco (N.A.: Ainda há pouco Jaime Franco, assim como Afonso Schmidt, defendia a chegada de João Ramalho muito antes de 1532 ao Porto das Almadias “colocado em terra firme do continente sul americano” e concluía que “também a História de Santos começou no Porto do Cubatão” – A Tribuna de 14/1/1973, pág. 3, 2º caderno).
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- Seção: Cubatão de Antigamente
- Índice: [036] Cubatão, por Afonso Schmidt
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